As vezes, quando chego em casa após um dia muito estressante na farmácia , eu fico me perguntando: “Está valendo a pena tanto esforço e tanta dedicação?”

Em algumas vezes fico sem resposta.  Como todo negócio, o meu também tem altos e baixos, mas ultimamente parece que as coisas ficaram mais difíceis.

Converso com alguns amigos empreendedores de outros segmentos e do segmento magistral também e falo pra todos eles, que hoje eu tenho que focar primeiro na parte legal do negócio para depois pensar no comercial, financeiro, RH, marketing, etc. Não necessariamente nesta ordem, mas o jurídico hoje tem de estar a frente de qualquer outro departamento.

CRF, COVISA, ANVISA, Prefeitura, Estado, União… NFP, SIMPLES, TRSS, CMVS, AFE, AE, TLIF, RDC’s, SS-17, Resoluções CFF, 3820/60, 5724/71, Leis municipais, etc e por aí afora. Todo ano a coisa se repete e quando percebo, já é final de ano. Mal deu tempo de pagar uma taxa e a mesma já chegou. Nossos prazos anuais…

Isso sem falar dos controles que estão ao nosso alcance: SNGPC, RMNB2, BSPO, POP’s, Auto-inspeção, PGRSS, PMOC, PCMSO, Qualificação de Fornecedores, C.Q. (Água, Insumos, acabados, bases), planilhas e mais planilhas. E na dificuldade diária que foge de nossos controles: insegurança, estelionatários, dinheiro falso, cheque sem fundo e furtos.

Mas como, meu Deus, como eu vou conseguir pensar em novos produtos, visitação médica, treinamentos, concorrência e preço se a todo momento eu fico apreensivo com a segurança de minha equipe e do consumidor, com a qualidade dos produtos e serviços, prazos anuais e fiscalizações? Só tem uma saída: contratando pessoas e que sejam competentes.

Mas aí o custo de mão de obra está maior a cada ano. Em 2013 8,5% a mais. Não posso contratar mais gente… E vejo alguns concorrentes abaixando o preço do seu produto para tentar conquistar novos clientes. Teve uma aqui no bairro que fechou as portas após mais de 30 anos de vida e PREÇOS BAIXOS.

Quando eu vejo que estou perdendo muito orçamento, dá uma vontade de abaixar também, mas aí me lembro deste concorrente e do momento que vive o segmento farmacêutico em Portugal e volto pro centro do problema: como conquistar espaço, sem ter que abaixar o meu preço? E chego a uma conclusão: tenho que planejar melhor e trabalhar mais.

Nós não temos ao nosso lado um órgão fiscalizador que aconselha e orienta, mas temos quem pune sem considerações. Não consideram o nosso histórico, nossa história pessoal e profissional, nossa batalha diária, nossa função social e geradora de emprego, nossa família, nossa vida pessoal. Sim, nós temos vida pessoal. Nada disso é levado em consideração. Então é melhor estar em dia com toda a sua documentação, não importam os meios e sim os fins.

Não podemos sequer comprar em cooperativa como fazem vários outros segmentos de micros e pequenos porte para competir com os grandes concorrentes. Mas não, conosco é cada um por si, regido por força maior é claro. Já pensou poder pagar R$ 1,80 o quilo do Orlistat, por exemplo? Ou comprar somente 10 ou 20g de Exsynutriment?

E ainda assim, com tanta coisa contra, nós ainda levantamos cedo pra trabalhar e por a casa em ordem, para encantar mais um cliente, para motivar um colaborador e conquistar a sua confiança, tudo isso com um sorriso no rosto.

E tem muita gente achando que somos inimigos uns dos outros. Meus caros, somos inimigos de nós mesmos, porque temos a mania de pensarmos sozinho, na solidão do poder das decisões.  Na auto-sabotagem que fazemos conosco, apagando incêndios diários e não planejando com a desculpa (e muitas vezes com razão) da falta de tempo.

Então, antes de abaixar o seu preço, pense que como você, eu também tenho família e funcionários que dependem de um negócio sadio e próspero. Antes de abaixar o seu preço, pense como seria mais interessante um segmento unido de verdade, discutindo caminhos em conjunto e lutando para que os nossos representantes lutem por nós com mais afinco e, assim, nós não tenhamos mais medo de errar, porque não estaremos mais sozinhos.

Comecemos pelo nosso vizinho, no nosso bairro. Converse com seu concorrente mais próximo e veja que ele também tem os mesmos problemas que os seus. Sejamos parceiros uns dos outros porque estamos no mesmo barco… e o resto eu nem preciso dizer.

Marcelo Castro, proprietário de farmácia de manipulação em São Paulo

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